quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Necessidade


Será que o amor é o único e suficiente para manter uma relação?

Quanto excesso de paixão resulta em desespero?

O amor é inesquecível, possível, gostoso... Mas ele por si só não basta.

Caio namora Juliana, ele tem a necessidade de estar sempre com ela, quer que ela ligue, dê notícias ou qualquer sinal no meio da tarde, noite, manhã, madrugada que o lembre que ela o ama. Qualquer mínimo detalhe, mínimo!

Juliana tem uma necessidade de estar junto com ele, mas em uma proporção menor. Ela se sufoca se passa muito tempo junto com alguém, se sente perdida, parece que ela esta fora, distante dos objetivos de sua vida.

Para Caio não é possível que o amor dos dois faça com que ela se sinta perdida, porque o amor deles é imenso, enorme, forte, bonito.

Juliana não entende porque Caio não se satisfaz com tudo que eles têm (que é imenso), porque para ela parece que ele duvida de seu amor e afirmar constantemente esse sentimento incomoda muito essa menina.

Quando eles estão juntos, antes que o desentendimento aconteça, o ambiente é uma delícia, o entendimento, a compreensão. É tudo muito mágico, sensual, divertido.

É legitimo esse amor. Verdadeiro...

Mas aquilo que flui naturalmente entra em descompasso, as necessidades são distintas, a forma de estar junto é sufocante para um e vazia para o outro. O amor se torna desesperador, a soma acaba e ninguém mais se escuta. Um vai embora da casa do outro e dorme muito irritado. A pessoa, que fica, entra em prantos e dorme confusa.

Isso se repete dezenas e dezenas de vezes... Mesmo assim eles juram que se amam, que querem ter filinhos e uma casa que já esta toda projetada na mente. Alguém duvida?

Sim é tudo verdade, do amor à frustração, das juras as brigas, dos beijos a distância! É tudo verdade...

Hoje eles não estão se vendo e fazem aniversário de namoro.

Hoje eles não se telefonam e sim é uma data em que eles gostariam comemorar, talvez por “obrigação inconsciente” ou por vontade mesmo... Não sei!

Então o que fica? O néctar vale a pena?

Caio fez votos de Silêncio, já que palavras em excesso transformam a vida do namoro em uma discussão e assim a vivência do amor se perde para a palavra.

Como resolver as necessidades de encontro e de estar junto deles dois? E como encontrar o equilíbrio entre ligar, demonstrar afeto e estar ao mesmo tempo cada um com sua coisa?

O presente sempre, mesmo na ausência! Como Juliana faria para dar a Caio isso e como Caio faria para dar isso a Juliana?

O presente sempre, mesmo na ausência. Mas o presente encanto, a satisfação de estar alimentado, porque ninguém é feliz com a presença da fome.


Beatriz Lopez.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Deserto

Alguma coisa me diz que se isso acontecesse a vida me daria alta.
Estaria livre de todas as incertezas e medos, não me preocuparia mais em convencer, em ser mais forte. Não falaria alto, jamais ficaria rouca por maus sentimentos.
Pensei e olhei, as lagrimas ainda escorrem em sua face. Pergunto como não esturrica se por vezes se mostra tão ressequida.
Nunca vi tanta água saída de uma mesma fonte, mas assim como no deserto, o chão seco dá vida aos cactos.
Seu codinome? Orquídea.
Incoerentes somos todos. Até os nomes...
A necessidade que tem é imensa, sua boca é gigante e o ouvido menor que uma cavidade microscópica.
Encontrei uma bela teoria, ela diz; "A cozinheira exerce o papel de filha e de mãe. É quem recebe o alimento, como a cria, e posteriormente os prepara oferecendo aos demais, representando a geradora." O pensamento passou desapercebido, mas algo ficou.
Rotineiramente vou à casa de uma amiga e por acidente Orquídea está lá, em todos os momentos. Ao menos eu, nunca vi essa casa sem ela.
Ali, a sala é cheia de coisinhas coloridas, a arvore esta sempre enfeitada, o sofá cheio de almofadas fofas. Se eu fosse um gato dormiria eternamente pensando estar sobre algodão.
Lá a fonte se ilumina e jorra seus segredos. A cavidade se abre, notamos que aumenta, mas não compreende! É vazio, sem ar, não produz ao menos eco. Se algo realmente entrasse o deserto umedeceria pelo simples fato de perceber que sua falta provém de si próprio. Nenhum sol é tão forte sobre esse solo, a não ser o próprio solo.
Costumo ouvir nesta sala multicolor que se quero algo diferente tem que partir de mim, mas chega um ponto que não posso mais. Dar tanta água me aborrece, ela não é útil, é apenas vaidade de quem recebe. Chega um momento em que não se pode mais modificar tudo em si próprio, o outro também tem que fazer algo.
O deserto é tão egoísta que seca por querer toda água do mundo.
Os que cozinham são felizes, o dom do alimento é puro, alegra distintos seres com um único feito. Para mim o papel figurado de cozinheira não cabe mais. Por longos dias fui múltipla, rega, luz, professora, protetora, cobertor. Hoje sou tudo isso, mas sem valor algum, na forma de voz que silencia num ouvido surdo.
Não me assemelho a um deserto infrutífero, sou tentativa de ressuscitá-lo.
No dia em que a rouquidão passar, será por que passou a surdez, a sala das almofadas realizará aquela mágica, seremos voz e escuta em qualquer lugar, em qualquer luz, o cacto virará margarida, e o deserto rio, a cozinheira será para todos apenas quando puder doar ou receber e as lagrimas não mais virão para chocar e magoar, serão acolhidas em seu momento de dor, assim deixara de ser protagonista de teatro e virará sentimento de verdade.
No dia em que a mágica surgir, a vida me dará alta.


Beatriz Lopez.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Anamnese

Não sou dona de promessas para guardar as que me oferecem, escuto as dele, mas soam como mentiras. Nem mesmo sei se pago as minhas, quem diria que ele saldaria as suas próprias?
A comida não digere, pareço com um recém nascido que se não regurgitar pode respirar o próprio vomito e morrer do único alimento que o faz sobreviver. Que me faz sobreviver...
Sobre... Alem... Continuar... Resistir... Respirar.... Escapar, escapar, escapar... Escape, escapou, escapei. Escapei?
Parece que sempre que chego mais e mais perto tudo, absolutamente tudo escorre das minhas mãos como se fosse água!
Escapa como escapam os sonhos... Como se perde o desejo de criança de sonhar... Como se desconhece o que sente de um filho que acaba de nascer...
Não adiantaria gritar, a mãe já cresceu faz tempo, o pai foi embora semana passada - Engraçado parece que foi há anos atrás.
Ontem ele disse que sim, jurou, murmurou amor e tudo se esvai...
Quem disse que é fácil se livrar das palavras? A dedicação à memória pode se tornar o pior afeto no amor, ela ludibria, engana, ilude. Conheço as raízes das lembranças, a intimidade invisível de uma corrente chamada apego.
Olho minhas mãos e não entendo, nem mesmo as vejo, tento sentir o cheiro da água, mas só consigo engasgar. Engasgo com minha própria saliva, engasgo com coaxados, com patas verdes que tentam entrar e sair de dentro da minha boca, garganta, estômago. Pula, pula, pula, pula, pula, pula....
Guardo como se fosse um filho, filho fruto do desespero, efeito de promessas de memórias.
Achava que podia fugir e na realidade me enganei achando que essa palavra fosse sinônimo de desfazer, desprender.
Bem feito, Quem foge de si próprio acaba nas garras escuras do desconhecimento, na manutenção de situações indesejadas.
Acho que fugi de mim mesma, não por acreditar em promessas, mas por não cumprir as que fiz pra mim mesma, prometi até defesa, mas minha guarda esta aberta e minhas feridas expostas.
Nada me deve, nem você, nem ele e nem ela. São só palavras, só reminiscência, anamnese ou pra ser mais suave
Filos.


Beatriz Lopez.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Informação

Começo a acreditar que temos a capacidade de enxergar apenas aquilo que queremos. Alguns dizem que não podemos ver algumas coisas ou que a cabeça ainda não esta pronta. Outros simplesmente se irritam por serem ignorados repentinamente. Cada um com seu caso!
Engraçado reparar que as pessoas por vezes são invisíveis. Em muitos momentos elas estão ali na frente, paradas, acenando, chamando e sendo olhadas, mas não são notadas.
Passei um tempo da minha vida ao lado de alguém que poucas vezes tinha parado para cumprimentar, nenhum motivo especial para isso. Como acaso nos encontramos presentes nos mesmos lugares, com semelhantes responsabilidades e dividindo tarefas. Poderia ter sido transparente, mas era impossível, já havia notado sua existência antes disso.
As coisas não são simples, se fosse a vida seria sempre um filme bobo e fácil. Minha existência nunca foi feita de facilidades, a cada momento me via presa em alguma coisa que tomava meu tempo e minha paciência, hora era um enrosco e hora era outro. Crescer foi a melhor estação de todas. Na verdade a melhor foi crescer sozinha e desenvolver as minhas capacidades. Não que eu seja sozinha, mas em imensos vazios era eu, eu e as decisões.
Hoje tenho certeza que não quero ser uma pessoa que evita enxergar os outros, talvez por isso doa tanto quando alguém não me vê mesmo sabendo que eu existo.
A ausência de comunicação é tão irritante quanto esperar por algo ou alguém que não sabe o que pode dar nem o que quer. Quem sabe o que existe? Eu pelo menos não sei prever, a futurologia deixo para os outros. Na minha vida gosto de acertar o relógio e andar de vagar e quando eu encontro algo muito bom quero correr, correr para não perder tempo, mas o famoso TEMPO é algo que difere muito entre as pessoas. Nem todos temos a sorte de encontrar no outro um ideal.
Pensava por fim em ter apenas a paciência! Mas o quanto isso dura? O que significa? Quem garante que ela existe? Isso depende de cada um.
A fala e a informação são fundamentais, ao menos para mim. Acho que como todas as pessoas eu gostaria de sempre ouvir palavras doces e tranqüilas, mas prefiro saber a verdade, mesmo que ela seja cortante, do que viver com a desinformação ou com a informação embriagada que no dia a dia não são reais.
Beatriz Lopez.

...

Palavra...
Quando silencio entendo aquilo que sinto, olho e admiro pelo vento mais belo.
Falei naquele dia o que senti, escutei...
Magia, um sonho, as mãos só podiam formigar de felicidade...
A grande “pequena” noticia no dia seguinte foi tão forte, tão boa que não se conteve e deflagrou o corpo!
Um sorriso não bastava, o dia sorria.
A lembrança da dança, da conquista sedutora e noturna.
Palavra...
Seus olhos esverdearam com calor, o fogo que existia palpitava e se escondia.
Depois de uma noite os gatos voavam, o dia se estendeu pela madrugada...
De mãos dadas estávamos acompanhados. Flutuou todas as idéias, a verdade veio primeira em forma de flor e depois como um véu negro.
O nome que se deu ao sentimento é só um nome.
O nome da verdade é interpretação.
Palavra...
Entreguei, não tinha por que esconder, mas parece que a fala amedronta. O amor amedronta!
O auge foi breve, a queda esta longa.
Ele perguntou “você pula ou eu te jogo?”
Pensei “não vou pular”. Quando me vi no ar não sabia por que, como, se fui eu ou ele.
Lembrei que foi bom!

Beatriz Lopez.