terça-feira, 15 de março de 2011

Irmãos.

Aos poucos ela foi ficando sem palavras e seguindo cheia de certezas.
A rainha tirana se deparou com os muros do castelo que antes eram tão fortes se esvaindo como se fossem de areia.

Seus aliados intermitentes por vezes pareciam inimigos, levavam presentes e se esqueciam do respeito. Não se destrata uma rainha!
Todos sabiam que seu reinado não passava de um ingênuo desejo e da porta do quarto para fora ela era apenas mais um membro de uma família como qualquer outra.

Seu irmão tão velho não passava de um coração emocionalmente instável e imaturo. Ele não poderia assumir nenhum trono, seu reinado seria a figura de seus desejos e inseguranças ou uma prova para o mundo de que todos necessitariam dele e de seu heroísmo inadequado.

Este casal de laço sanguíneo eterno não podia se encontrar, embora pisassem o mesmo chão a muito tempo não se ouvia as vozes intercaladas e nem se via ambos juntos.

Ela esperava a chegada de um príncipe e ele dizia ter amor por esse príncipe, mas nunca respeito pela irmã. Durante toda a vida ela não passou de um meio dele despejar a raiva. Quando cresceram ele não passou de uma figura egocêntrica e que despertava as piores iras nela.

Um dia mortes se espalharam pelas ruas se misturando aos vivos e muitos estavam estirados no chão indiferenciados, humilhados, assombrando o sonho de vitalidade.

Pessoas andavam entre os corpos procurando um sopro de vida, identificando seus pares, amores e tropeçando em seres desconhecidos.
A Menina-Rainha procurava seu irmão e nele algum tipo de perdão, nem mesmo ela entendia se queria perdoá-lo, pedir para ser perdoada ou ambos.
O irmão estava ali em algum lugar, vivo ou morto junto aos muitos corpos e ela não o achava e seguia com aquela relação indigesta e moribunda como se levasse para ele toda uma vida exaurida de guerra, só que agora com um pedido de trégua. Ela pensava “esteja vivo e por favor vamos ser amor”.

Não se sabe se eles se encontraram, se algum deles desfaleceu como uma arvore sem água, sem galhos e com raízes despedaçadas.
Sabe-se que antes do desastre acontecer e dentro do quarto a rainha perdeu seu reinado e fazendo muito barulho tentou silenciar os berros de seu coração.
Com mais certezas que nunca saiu para a rua em busca o tal perdão e ai viu as morte nos corpos de pessoas e se consolou acreditando que todos os que partiram tinham paz no coração.


Bê.Lopez

sábado, 24 de julho de 2010

Nostalgia

Lembranças...

São sensações que já vivi, cores do dia, cheiros, lugares, pessoas que amo e que por motivos impares são distantes. Nostalgia sem fim...

É agradável saber que o amor vive em mim e nelas. Segurança de afeto é muito agradável, estável

Na distância mora a saudade e a presença. Saudade que não nos deixa a sós, sempre com todas as recordações e momentos vividos. E na presença, alguém que não está e então a lembrança, que no contemporâneo afirma o quanto somos sozinhos pelas vidas que seguem percursos únicos.

Tem um pássaro em minha janela, pia... Vai embora voar nesse dia quente de inverno. Quando éramos mais novos, no outono, muitos alunos se esquentavam no intervalo da aula na quadra do colégio, naquele sol que nem por um segundo ardia o nosso corpo.

Eram cachecóis, casacos, boinas, calças e um sol...

Ouço musicas que me fazem querer danças, pular, sair pela rua sorrindo e beijando o vento... Desejo uma alegria conhecida, a euforia adolescente ou aquele frio na barriga pré primeiro beijo em alguém que estamos apaixonados.

Nesse anseio vive o desejo de compartilhar as alegrias com quem amo, que o ser amado compartilhe comigo a dança, a luz, as noites alegres, que conheça os meus amigos, que partilhe comigo as viagens tão importantes de réveillon.

As minhas lembranças tem sido tão doces e suaves... Poder viver o que um dia estará na caixinha da saudade me da certeza do quão gostoso é poder partilhar esses momentos com quem se ama, se apaixona e com amigos.

Paula, Miriam, Marília, Hitiro, Joana, Rodrigo, Susana, Luiza, André, Maiana, Juliana, Débora, Luiz, Carla, Laila, Renata, Natalia, Mariana, Fernando, Tarsila, Flora, Pedro, Maria, Luciana, Daniel, Emilio, Denise...

Infinitas pessoas... Infinitas lembranças... Infinitas saudades...


Bê.Lopez

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Realidade.


Quantos dias estivemos juntos naquele carro preto, cada um ocupando seu lugar habitual. Eu costumo estar ao lado dele, que sempre me busca e me leva.
Antes desse amor nascer já existia um encanto em meus olhos ao ver a copa das arvores de baixo para cima, obviamente se fosse um pássaro a visão seria outra. Como a beleza não se restringe a um ângulo me acostumei a contemplar essa visão.
Quando nos encontramos, passamos a estar sempre juntos e ele me disse um dia “que linda” ou algo assim quando timidamente coloquei minha cabeça em seu colo, o farol esta vermelho e já era noite.
Mostrei que linda eram as folhar, mesmo com a luz da cidade. Escutei aquele sorriso que estava mas para riso de paixão. Estávamos enamorados e a sensação desse sentir se acentuava cada vez mais.
Um dia reparei, outra vez, que da mesma forma como geramos amor nas pessoas, somos capazes de despertar ira. Comparei então ao que já conhecia e acreditava que são os olhos cegos em meio a luz do fim da tarde. Momento esse que esquenta o corpo e é belo, mas engana já que olhamos para a luz e ela nos ofusca.
Acreditei nisso por muito tempo, até pensar que nada nos cega, nós nos cegamos! Isso foi quando ele disse “não vou olhar pra essa luz, por mais fraca, vai me machucar”, então compreendi algo essencial, o limite, a proteção e o respeito.
Um dia voltávamos de qualquer lugar para qualquer outro e perto da praça Panamericana vi aquele monte de arvores, com as folhas lindas e cheias de verdes diferentes reluzindo, era de tarde e então me apropriei do ensinamento e passei a admirar toda luz em cores e vida, toda copa e toda arvore que com sua beleza me fez, e faz, sentir viva, cada vez mais apaixonada por ele e pela vida.
Por fim, em uma tarde ensolarada, ofereci a ele a beleza que aquele dia poderia proporcionar e todas as cores que seus olhos pudessem enxergar.
Quando nos re-conhecemos, antes de ficarmos juntos, pudemos reparar um ao outro e nos conhecer, entender quem somos, eu a ele e ele a mim. Perceber defeitos, qualidades, manias e saber que aquilo que entendemos um do outro é real.
E que bom que na realidade nos apaixonamos.

Bê.Lopez